Eleuza Maria Costa Mendes*
Se errar é humano, porque em relação à educação escolar errar é sinônimo de fracasso? Quando o aluno não responde “certo” ele é tido como alguém que não aprendeu, logo tem problema de aprendizagem. E o que é aprendizagem? E o que é aprender?
Todos nós erramos e é errando que aprendemos. Todo educador deveria conhecer e analisar as diversas teorias que abordam esse tema para melhor mediar a sua ação frente ao educando no mundo, enquanto ser social e transformador.
Para o teórico Jean Piaget, todo conhecimento é construído através de um processo contínuo de fazer e refazer.
Para Piaget, segundo Giusta (1994), “Na lógica dos erros que as crianças cometiam durante testes de raciocínio, ele viu a possibilidade de resgatar o percurso, o processo de desenvolvimento intelectual do ser humano”.
Piaget não elaborou uma teoria da aprendizagem e sim uma teoria do desenvolvimento. Porém, desenvolveu investigações cujos resultados levam às diversas interpretações que se transformam em propostas didáticas, facilitando a compreensão de como a criança aprende. O educador que trabalha na sala de aula, segundo a teoria piagetiana, a partir do erro tem grande possibilidade de favorecer a aquisição da aprendizagem, pois já é sabido que a aprendizagem é um processo construído internamente e os conflitos cognitivos são importantes para o desenvolvimento desse processo. A partir do erro da criança é possível tentar compreender como ela vê o mundo, como organiza o seu modo de pensar e como elaborou essa resposta. È importante valorizar a oportunidade que a criança ou o adulto tem de tentar resolver a questão, e é nessa hora em que se dá a interação onde é possível construir estruturas mentais e adquirir maneira de fazê-las funcionar, por meio de dois processos que é a organização interna e a adaptação ao meio, essa função ocorre pelo organismo ao longo da vida. A adaptação se processa pela assimilação e a acomodação. Para Piaget, a assimilação é um processo pelo qual o individuo cognitivamente capta o ambiente.
O processo de assimilação e acomodação pode ser visto como um suporte para a equilibração, considerando que o desequilíbrio ocorre quando se espera que uma situação se desenvolva de determinada maneira e isso não ocorre. O equilíbrio se estabelece na passagem de uma situação de menor equilíbrio para uma de maior equilíbrio. O erro para Piaget é uma etapa necessária do processo de construção do conhecimento.
È no espaço escolar, local onde é possível levar o aluno à transmissão sistemática do saber historicamente acumulada pela sociedade, capacitando-o a participar como agente na construção dessa sociedade.
O professor que desejar contribuir para preparar alunos conscientes deverá transmitir questões relacionadas com a visão do ser humano e utilizar uma didática e estratégia que tenham origem na sua concepção do que seja aprendizagem.
O senso comum traz a afirmação de que errar é humano, e, avaliando as concepções de alguns teóricos, penso que essa afirmação é uma sabedoria popular e me pergunto por que nós professores que erramos temos ainda tanta dificuldade em lidar com o erro escolar. Crucificamos o aluno que “erra”. Não aproveitamos o erro para compreender em que estágio ele se encontra e mais ainda o que está para acontecer nesse processo e, assim ,interferir na a zona de desenvolvimento proximal para provocar avanços e elaborar estratégias pedagógicas para auxiliar o processo.
È na interação com o outro que se dá a aprendizagem. È na escola que o aluno deixa de ser somente sujeito da aprendizagem e passa a aprender junto ao seu grupo.
Concluo que o processo de aprendizagem exige a atuação do professor como mediador para que o aluno realize as atividades e se aproprie do objeto do conhecimento e das habilidades necessárias ao seu desenvolvimento. O professor tem a função explicita de interferir na zona de desenvolvimento proximal. A prática pedagógica necessita estar centrada no aluno, os conflitos cognitivos fazem parte do desenvolvimento da aprendizagem, que é um processo de reorganização. Para um melhor desempenho do aluno e do professor, é importante que ele, o professor, observe o nível de desenvolvimento em que o aluno se encontra, lembrando-se que o sujeito é um ser dinâmico que interage constantemente com a realidade e que o erro pode e deve ser transformado em possibilidades de acerto, quando se encoraja o aluno a explicar como ele chegou àquele resultado, àquela conclusã, e assim o educador pode interferir ajudando-o a levantar hipóteses com a ajuda de outro aluno, pois a interação social favorece a aprendizagem.
Dessa forma, o educador deve perceber o lado construtivo do erro e estimular as tentativas de liberdade e expressão, colaborando com a formação do ser, reconhecendo a aprendizagem como um processo em construção que deve ser compartilhado, atuando com ações intencionais, respeitando o ritmo individual e grupal nos processos de assimilação e acomodação do conhecimento.
O educador pode criar um ambiente favorável a aprendizagem, deixando que o erro possa ser problematizado, compartilhado, levando o aluno a utilizar estratégia, que colabore para torná-lo criativo, capaz de lidar com a incerteza, autônomo e confiante.
*Eleuza Maria Costa Mendes é psicopedagoga